quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

A boa mãe

Em tudo aquilo que o dinheiro pode comprar, não falha, nem falhou nunca, apesar de outrora ter sido feito com grande dificuldade. O que lhe dá ainda mais valor, segundo ela. Nunca falhou para a escola privada, boas roupas, confortável e belíssima casa, férias de sonho e mesada generosa. Mais tarde, os estudos no estrangeiro, e o carro. E depois foi sempre assim, mesmo quando já não se esperaria tanto com mãe viva, foi o apartamento, em condomínio fechado, o pagamento de todas as contas e sustento em geral, quando o desemprego lhe bateu à porta. Porém, há na filha uma insatisfação impossível de colmatar, que a mãe confunde com ingratidão. Ainda não entendeu o mais simples e transparente para quem está de fora; que apesar de tudo o que tem dado ao longo da vida faltou a presença e afecto. E sem isso não há intimidade entre mãe e filha, para que desabafos e acusações sejam feitas, contas saldadas e talvez um recomeço sem mágoas seja possível. 
É tão difícil aprender, sobretudo quando a mágoa nos tolda a compreensão.