segunda-feira, 17 de julho de 2017

Nostalgia


Estas, e dezenas de outras portas, iguais ou semelhantes, suscitam-me uma nostalgia inusitada; de pessoas que não conheci, de famílias que nunca vi, de histórias que ninguém me contou. Porém, por detrás de cada uma destas portas, viveram-se vidas, nasceram bebés, cresceram crianças, ouviram-se choros e risos, pessoas entraram e saíram, rodando chaves e empurrando as maçanetas. Durante várias gerações, mantendo-se as mesmas famílias, ou mesmo com troca de famílias, houve vida, por detrás destas portas.

Estão agora fechadas, perras pela falta de uso, em penitente silêncio, aguardando talvez que alguém as veja de verdade, e lhes queira dedicar cuidados e trabalhos, reabilitando-as como merecem. Quiça, esperando ainda que outras famílias cheguem, se instalem e tudo recomece; nascimentos, risos, choros, portas a bater, alguém a bater à porta, cartas a deslizarem pelas caixas do correio.

Ignoro se estas expectativas pertencem às portas, ou se são apenas minhas. O mais certo é que estas portas se tornem obsoletas e sejam trocadas por outras mais fortes, capazes de aguentar o abrir e fechar constante dos turistas, que se dirigem para os quartos que alugam. E que por detrás destas portas, não mais se vejam filmes completos, de famílias inteiras, de geração em geração, apenas bocadinhos de episódios soltos, falados em diversas línguas. Mas se estas portas, por inspiração superior, recuperarem a beleza e delicadeza do passado, seja quem for que por elas passe, há-de nelas falar; há-de fotografá-las, há-de tirar selfies com elas como cenário. Talvez até, alguém faça delas postais, que serão enviados para os quatro cantos do mundo. 
Ámen.