segunda-feira, 16 de março de 2015

A Teoria da Selfie

Apenas há dias, quando me pediram uma fotografia para publicar junto do meu artigo, me apercebi que não tinha fotos minhas. Sozinha. Normalmente sou a fotógrafa, portanto fico excluída, e quando faço parte dos fotografados é sempre em grupo. Para mim, faz sentido guardar as pessoas, reunidas naquele local que também quero registar, é certo, mas principalmente quem estava comigo. 
Parece impossível, na época das selfies, que não tivesse diversas fotos dentre as quais pudesse escolher; contudo, eu nunca tirei uma selfie. É verdade, devo ser caso raro, talvez até caso de estudo.

E pus-me a pensar neste fenómeno que elegeu, já em 2013, "selfie" como a palavra do ano, absorvendo o estrangeirismo como palavra sua, em todas as línguas. Ninguém parece resistir-lhe, cantores, actores, presidentes, o Papa, e recentemente a última das renitentes, a rainha de Inglaterra, até ao comum dos cidadãos. Não há faixa etária exclusiva, nem classe social. Basta possuir um smartphone, aparelho democraticamente disponível. 

Fosse a selfie uma constante reposição do mesmo e já teria certamente saído de moda, porém tem sido metamorfoseada periodicamente, através de, por exemplo, a "duck face", que parece ter sido inventada pela também inventada Kim Kardashian; ou outra parte do corpo de si mesmo, com direito a denominação própria.

Dizem os sociólogos, e psicólogos que é um acto de narcisismo assumido, e que o ecrã se tornou a montra da vida. Não me parecem controversas tais conclusões, vivemos numa era do culto do "eu", da promoção da imagem, da vida vivida em função dessa imagem idealizada e publicitada. São os 5 minutos de fama, do comum dos cidadãos; a imagem de perfil mudada dezenas, centenas de vezes, em busca de um record de likes. A divulgação do local de férias, do prato gourmet, das companhias fashion, da última compra, do último local onde se esteve. Tudo em tempo real, e pouco genuíno. A vida editada para ser alvo de admiração e inveja. Sempre com muitos likes.

Encontraram as pessoas uma forma legal, que julgam não lhes afectar a saúde nem criar dependência, de escaparem à monotonia, ou apenas normalidade da realidade. Atrevo-me a dizer que nunca antes aconteceu, uma escalada de alienação tão amplamente difundida e aceite. Fenómeno transgeracional, que perde pela unanimidade.
É isso o que realmente me preocupa, uma sociedade unificada na sua ausência.