sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A Pedagogia da Gratidão

Queixava-se a mãe dos súbitos caprichos da filha. Que a nova escola, com outra classe de alunos mais endinheirados, a levava na onda das marcas, dos carros topo de gama, dos Hiphones, e outras modernices apelativas. Que já não se contenta com o que tem, que até há pouco a satisfazia perfeitamente. Tudo o que lhe pertencia perdera valor, e um só gadget caro na mão de outro lhe parecia o único passaporte para a felicidade.
De nada importam as dificuldades da família, sobretudo no caso de um dos progenitores se encontrar desempregado.

Tudo no seu mundo adquire contornos hiperbólicos, a serem levados muito a sério, como se de uma catástrofe eminente se tratasse. Enquanto o resto do mundo se debate com problemas comezinhos; pagar as contas, encontrar trabalho, e controlar rigorosamente o extracto bancário, num número de equilibrismo de tirar o folego.

É verdade, o egoísmo é próprio da idade, e a influência dos amigos parece ser agora a única. É uma fase, já todos  sabemos. Pergunto-me porém, se no meio da luta diária, encontram os pais motivos para serem gratos e expressarem essa gratidão. Nunca houve o hábito, mesmo na época das vacas gordas; a riqueza da vida fluía como um direito inalienável, não merecendo um simples obrigada. Agora, com certeza, menos ainda.

Ao número de filhos ingratos suspeito que anteceda outro igual de pais, padecendo do mesmo mal. Enquanto não fizermos da gratidão, pelas coisas boas que temos na vida, hábito regular e lhe dermos voz, continuaremos a criar filhos ingratos.

Voltamos sempre àquela velha história do exemplo.