segunda-feira, 4 de junho de 2012

Heróis precisam-se!

Via
O momento era solene. O coro, do alto do seu palanque, cantou o hino nacional, dirigindo os olhares e vozes aos "heróis", estrategicamente colocados num local mais alto ainda, para que todos os pudessem ver. 

A plebe aplaudiu emocionada pelas palavras do próprio hino. Logo de seguida, uma voz começou a debitar um discurso poético, em que enaltecia os poderes desses homens, o trabalho, o empenho e a coragem; acrescentando que nós acreditávamos neles, e que eles eram o nosso exemplo.

Os heróis sorriam placidamente, abraçados uns aos outros, e acenavam saudações, perante o ar deleitado dos seus admiradores, já gratos pelo facto de os terem contemplado com os próprios olhos.

Depois desta cerimónia de despedida e homenagem, os heróis partiram para uma viagem fantástica, de onde a pátria reza e espera que regressem vitoriosos.

Esta cena não se passa no sec.XIII ou XIV. O local não é a foz do Rio Tejo, nem os heróis são os marinheiros, oficiais e navegadores portugueses que descobriram rotas e países.
Até parecia, não parecia? Contado assim é o que me faz lembrar. 

Mas não. Esta cena passou-se em Óbidos, estes dias, e os heróis eram os jogadores da Selecção de Futebol, no fim de estágio.

Fiquei consternada com toda esta cena inesperada, que apanhei num momento de zapping. O coro era infantil, e quem discursou foi uma menina, que me pareceu ter uns 14 anos; ela leu o discurso como se tivesse sido escrito pelas crianças, e o tom era de "adoração".

Acho lamentável que as crianças portuguesas vejam os jogadores de futebol como exemplo. Regra-geral, sem estudos, incultos e  arrogantes, tornam-se exemplares em quê? Nem sequer conseguem ganhar uma Taça do Europeu, ou Mundial, aquilo para que são pagos! A não ser que seja nisso que demonstrem a exemplaridade! Os vencimentos, prémios e mais não sei quê, milionários, que os tornam meninos-grandes-mimados, sem noção da realidade, são exemplo?!
Não me parece. Acho imoral que num país onde a maioria das pessoas ganha menos de 500 €por mês, executando trabalhos duros e ingratos, estes "miúdos" ganhem autênticas fortunas só porque dão chutos numa bola.

Os heróis destas crianças deveriam ser os pais, que frequentemente com muito esforço, trabalho e sacrifício, conseguem, honestamente, prover às suas famílias, alimentar os filhos, vesti-los e pagar-lhes os livros. Mas não. O que vejo por aí, é uma geração de adolescentes, ingratos e mal-dispostos, que idolatrizam os jogadores de futebol, que nunca lhes deram sequer a alegria de uma vitória realmente importante, digna de admiração.

Infelizmente, grande culpa de tudo isto é dos próprios pais, que não ensinaram aos filhos o valor do dinheiro, e do trabalho. Não se souberam valorizar junto dos filhos, culpabilizados por não conseguirem ganhar milhões de euros em meia dúzia de anos.

A outra parte da culpa é dos média, que mais uma vez empolam situações, enaltecem egos, promovem personagens ( não, personalidades, não!),  e criam expectativas que sairão goradas, já o sabemos. Mas entretanto, que se vendam jornais, revistas e notícias!
Que se cante e ria. Para depois nos zangarmos. Mas isso será quando eles quiserem; nessa altura as marionetas apagam os sorrisos e arboram ares ameaçadores! Esperam revoltados, sentindo-se enganados, os jogadores, no aeroporto, para os vaiar e ameaçar.

Porém, entretanto...show must go on! 

Tenham uma óptima semana!