quarta-feira, 18 de abril de 2012

Tratar por tu ou você?

Via Zazzle
Há dias, vi na televisão um psicólogo afirmar que os filhos devem tratar os pais por "você" porque marca mais a distância, incute autoridade e respeito. Segundo ele, o "tu" usa-se entre amigos, e a relação pais-filhos não está nessa categoria. No entanto, como muitos pais e filhos acham por bem que a relação deve seguir esse sentido, permitem-na dessa forma, o que se traduz nesta falta de educação, e respeito, actuais.

Não concordo nada com ele. Eu nasci antes do 25 de abril, e vivi numa zona bastante rural, mas fui educada a tratar os pais por tu. É certo que na época, nenhuma amiga ou colega usava o mesmo tratamento, e até lhes causava alguma admiração. Porém, nunca isso foi impedimento à boa-educação e respeito, para com os meus pais.
Penso sim, que havia uma maior abertura entre nós. Conversávamos mais, falávamos das nossas coisas, mas se por acaso alguma de nós passasse os limites, o meu pai nem precisava pronunciar palavra: bastava levantar o sobrolho, e eu e as minhas irmãs arrepiávamos caminho.
Parece-me que a definição de limites na relação pais-filhos está constantemente a ser deslocada, os filhos testam-na constantemente. Independentemente do tu ou você.

Sinceramente, penso que estamos aqui a confundir as coisas; será que somos respeitados apenas pelas pessoas que nos tratam por você? Então, e no trabalho, entre colegas, entre amigos? As relações não se constroem com respeito por nos tratarmos por tu?
Não me parece mesmo nada.

Há realmente uma classe que faz gala no tratamento mais formal; inclusivamente, não apenas os filhos tratam os pais por você ( implícito no "a mãe", "o pai"), como os pais tratam também os filhos por você ( implícito no nome próprio), mas parece-me puro snobismo. É a minha opinião. E não acredito que  nestas famílias haja necessariamente mais respeito, ou educação, por isso.

Constato, de facto, que existe uma falta de educação crescente. Que não advém do tratamento entre pais-filhos, mas sim da omissão dos pais no quesito "boa-educação"; deixam passar as frases sem a utilização do "faz favor", "obrigado"; permitem-nos tratar por tu pessoas desconhecidas ou mais velhas; deixam as crianças comer sem maneiras, enfim, deixam os filhos por conta própria.

Não sei se o formalismo (ao qual eu acho imensa graça) que existe no Brasil entre pais-filhos, em que estes se dirigem aos pais, como "o senhor", "a senhora", foi impeditivo para a falta de educação. Mas duvido muito.

Talvez um dia, no futuro, imitemos o exemplo dos espanhóis e tratemos a todos por tu, parece que é para isso que caminhamos. E confesso que não me agrada nada, porque o "tu" é para quem nos é intimo, mas tenho a certeza que os responsáveis não serão os pais que educam bem os filhos.


Eu faço gala é da boa-educação. Com ou sem tu.

Até breve!