sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Oportunidades


Eles construíram a casa pensando unicamente na estética; uma casa linda, uma arquitectura diferente onde a luz natural entra por todo o lado. Esqueceram que tinham um casal de gémeos de 1 ano, que já gatinhavam e em breve caminhariam sozinhos. E se em qualquer casa os perigos espreitam às crianças e os pais se preocupam em bloquear fechaduras e gavetas, proteger esquinas, colocar grades nas escadas, etc. nesta casa o perigo não espreita, está lá, exposto, por todo o lado! A família inteira previne o casal, mas eles resistem. Por vaidade, porque uma rede plástica no passadiço destrói a beleza daquela ponte suspensa. Por orgulho, porque concordar com a família é o mesmo que dizer que estão errados. Por soberba, porque se cederem estão a permitir à família que interfira na vida deles.

Nós só passamos lá um fim-de-semana e eu apanhei um susto enorme ao ver o Duarte a subir as grades do passadiço, a cabeça dele debruçada para fora e o corpo a reclinar-se para o vão. Tudo porque queria sentar-se na cama de rede. Fiquei a tremer, o casal viu mas não ficou a tremer…

Há alguns anos atrás um familiar, que precisava tomar uma decisão, pediu-me um conselho e eu dei. Todos concordavam comigo, não porque eu fosse extraordinariamente sensata, mas porque simplesmente era por demais evidente. Ela ouviu, disse que eu tinha razão e na hora fez tudo ao contrário, fez o que queria. Esse acto representou um atraso na vida dela de 6 anos, andou à deriva, sofreu, arrependeu-se e voltou ao ponto de partida. Quando ela quis, quando ela compreendeu. Eu também compreendi que ninguém muda ninguém. Ela teve sorte, porque apesar de tudo, teve oportunidade de voltar atrás e refazer o percurso. Mas, e quando não há oportunidade de voltar atrás? Quando os passadiços têm grades em degrau e duas crianças curiosas deambulam pela casa?

Alguém me disse estes dias que todos temos oportunidades, só temos que saber aproveitá-las.

Bom fim de semana!