domingo, 18 de março de 2007

Síndrome de Cinderela


Eu gosto de moda, de tudo, mas do que gosto mesmo muito mais é de sapatos. Eu adoro sapatos! Não sei quando começou esta fixação, porém lembro-me de sandálias, botas e sapatos que tive ainda em criança. Não me recordo das roupas mas do calçado…ah, lembro-me bem do feitio, da cor, dos materiais. Quando comecei a ter idade para comprar sozinha, lembro-me do amor à primeira vista que muitos pares despertaram em mim. Essa era a minha forma de aquisição predilecta. Olhar para os sapatos na vitrine e saber que eram aqueles! Que tinha que os ter! Tornei-me especialista em sapatos; o calçado tinha para mim uma linguagem que eu entendia e falava. Era a primeira coisa que eu olhava numa pessoa e imediatamente fazia a sua leitura: prática, elegante, cuidadosa, desmazelada, vaidosa, pobre, rica, etc. Se ao conhecer um rapaz, ele calçava uns sapatos que eu não gostasse o resto já nem interessava!
Acumulei muitos pares de sapatos, porque nunca me cansava deles, porque tinham sempre bom aspecto (eu sempre os tratei bem!), até que a biqueira quadrada, ou o salto raso deixava de estar na moda. Então, entravam nas caixas de origem e ficavam no armário. Quando casei, o meu marido “obrigou-me” a dar os sapatos que não calçava. Depois, cheguei até a comprar sapatos que iam directamente da loja para o armário, só para não ouvir o meu marido a repetir incrédulo: - Outros?! Claro que ele acabava por os ver, mas já não importava.
Hoje continuo a gostar muito de sapatos, porém o amor à primeira vista de um novo par muito raramente acontece. Também já não são a primeira coisa que olho numa pessoa, nem me precipito a julgá-la pelo que calça. Agora concentro-me nos olhos. Não dizem que eles são o espelho da alma? No entanto, são bem mais difíceis de ler do que decifrar alguém pelos sapatos.