quinta-feira, 29 de março de 2007

Páscoa é muito mais do que coelhinho de chocolate e amêndoas


No próximo domingo partimos para o Algarve, para uma semana de férias; como não poderei postar nesse tempo aqui está um post, que eu queria ter dividido em 3. Porque eu penso que Páscoa é muito mais que coelhinho de chocolate e amêndoas, na realidade, acredito que:
"Todo ano presenciam-se, em várias partes do globo terrestre,festividades sagradas que visam a comungar a consciência humana, pessoal e coletiva, com a seidade divina, com as potências celestiais."

A história da Páscoa
No Egipto viviam muitos hebreus escravizados, que faziam os trabalhos mais duros e eram muito maltratados. A certa altura o faraó ordenou que todos os meninos hebreus fossem lançados ao Nilo, apenas as meninas poderiam viver. A mãe de um certo menino, tentando salvá-lo, abandonou-o numa cesta, no Nilo. A filha do Faraó que se banhava nas águas, encontrou a criança, chamou-lhe Moisés (salvo das águas) e criou-o como filho. Moisés cresceu e fez-se homem. Um certo dia viu um egípcio espancar um hebreu, revoltado matou-o e pôs-se em fuga para escapar à ira do Faraó, e tornou-se pastor. Certa ocasião, quando tomava conta do rebanho viu uma sarça-ardente, aproximou-se e uma voz falou-lhe:
-Moisés, eu sou o Deus dos teus pais. Vi como sofre o meu povo. Vai ter com o faraó para que o liberte. Disse.
Moisés, apreensivo, aceitou e foi com Aarão falar ao faraó. Este recusou o seu pedido, o trabalho dos escravos era necessário e tornou-se ainda mais severo. Durante muitos anos prolongou-se o sofrimento dos hebreus, até que o Senhor puniu o Egipto com terríveis pragas. Porém, o faraó faltava á sua palavra sempre que uma provação terminava. As pragas eram cada vez mais duras, todavia os hebreus foram poupados a todas. Por fim, Deus enviou a mais violenta das pragas: a morte de todos os primogénitos do Egipto. Aos hebreus foi-lhes dito que imolassem um cordeiro de 1 ano de idade, com o seu sangue deveriam pintar os umbrais das portas, para que o anjo da morte poupasse as suas famílias. O cordeiro deveria em seguida ser assado e comido. Seria uma noite memorável e chamar-se-ia pârakh (Páscoa), que significa “passar ao lado”.
Todos os primogénitos morreram, inclusive o filho do faraó, que finalmente chamou Moisés e lhe permitiu que partisse com o seu povo.
Os hebreus temendo que o faraó reconsiderasse, apressaram-se a partir, levando as masseiras, com o pão ainda por levedar.
Era o fim da escravidão.

A Páscoa hebraica
Ainda hoje os judeus, sobretudo os dispersos pelo mundo, se juntam para celebrar, numa refeição familiar, a memória da saída do Egipto. Alguns preparativos são necessários para esta comemoração:
- Faz-se uma rigorosa limpeza à casa.
- Na véspera da refeição, procura-se o mínimo vestígio de pão fermentado, à luz da vela. As últimas migalhas são varridas simbolicamente com uma pena.
- Toda a louça usada habitualmente é substituída por outra, usada apenas nesta cerimónia.
- Ao centro da mesa coloca-se o menorah aceso (castiçal de 8 braços).
- Todos os alimentos servidos nesta refeição são simbólicos do Êxodo: o pão ázimo, recorda a pressa da fuga do Egipto; a água salgada, que representa as lágrimas dos hebreus, choradas durante o longo cativeiro; a alface, lembra as refeições frugais dos escravos; o ovo cozido nas cinzas, que lembra o afastamento da terra santa e a destruição do templo de Jerusalém; o osso da perna do cordeiro lembra os cordeiros mortos, cujo sangue os salvou; a massa de amêndoas, maçãs e canela representa os tijolos e a argamassa usados para construir cidades no Egipto. Na mesa coloca-se também um copo de vinho para o Messias, que pode chegar a qualquer momento, por esse mesmo motivo a porta é deixada aberta.
À refeição fazem-se algumas leituras que contam a história deste povo e a pessoa mais velha conta como o povo de Israel, guiado por Deus, ficou livre.
A Festa acaba com um brinde: “No ano que vem em Jerusalém!”

A Páscoa Cristã
Também a Páscoa cristã celebra a vitória da vida sobre o sofrimento e a morte. Celebra a memória da Ressurreição.
Jesus foi crucificado e morreu. Sepultaram-n’O num túmulo, tapado por uma grande pedra e vigiado por alguns guardas romanos. Porém, ao chegar ao túmulo algumas mulheres encontraram um anjo que lhes disse:"-Ele não está aqui porque ressuscitou". E afastou a pedra, para mostrar o túmulo vazio. Então, elas correram a espalhar a boa nova.
Tal como o sangue do cordeiro salvou da morte os judeus, com a sua morte, Jesus Cristo livrou do pecado a humanidade. Por isso é chamado cordeiro de Deus.

A Páscoa é uma festa móvel, determinada pelo calendário lunar. Celebra-se no domingo mais próximo da primeira Lua Cheia do mês lunar que aparece depois do equinócio da Primavera. Esta data foi fixada por decisão do Concílio de Niceía, em 325.

Como vivemos a Páscoa hoje
Encontramos claramente influências judaicas na preparação e celebração da nossa Páscoa. Dias antes da Páscoa as casas são limpas de forma cuidada e minuciosa. Alguns aproveitam também para pintar a casa. Depois do rigor do Inverno as casas bem necessitam desta refrega, porém a intenção é tornar a casa apropriada para receber Jesus.
Á mesa coloca-se uma boa toalha branca, e sobre o centro da mesa, um arranjo de flores brancas e taças com amêndoas variadas.
A refeição de Páscoa tradicional é cabrito assado, acompanhado por batatinhas, arroz seco e salada, regado por um bom vinho. De sobremesa os doces típicos, do qual o pão de ló é rei.
Cada casa é visitada por um pequeno cortejo, o Compasso, que se faz anunciar ao longe por uma sineta, constituído por alguns homens e rapazes em substituição do pároco, que não pode sozinho visitar todas as casas da paróquia. Entram nas casas, pronunciando “Aleluia, aleluia” (louvai Yahvé) e trazem um crucifixo que dão a beijar a todos os membros da casa. Abençoam cada lar, aspergindo água benta e recolhem a oferta pascal, que cada família faz ao padre nesta época.
Durante a minha infância esperávamos todo o domingo de Páscoa em casa, porque desconhecíamos a hora que o cortejo chegaria e o padre visitava todas as casas. Actualmente as pessoas preferem passear depois do almoço e por isso quase todos os padres acabaram por optar fazer as visitas somente da parte da manhã. Deste modo, criaram vários grupos que possam levar o crucifixo.

Faz parte da tradição portuguesa, os afilhados, na Páscoa, receberam da madrinha o chamado Folar; este é um nome genérico do presente que se oferece, ao qual se junta o tradicional pacote de amêndoas. Ao receber o folar, os afilhados retribuem com flores, à madrinha.
Em criança adorava receber os pacotes de amêndoas, hoje o meu papel inverteu-se e como madrinha sou eu quem dá o folar, o que é igualmente gratificante.

Assim vai ser a minha Páscoa, se tudo correr bem.

Uma boa semana e uma feliz Páscoa.

quinta-feira, 22 de março de 2007

O principio do fim do complexo de Édipo


Muitas vezes as pessoas falam do complexo de Édipo desconhecendo o mito que lhe deu origem. Durante muitos anos eu pensei que Édipo se tinha apaixonado pela mãe, sabendo que Ela era sua mãe. Só na Faculdade, ao estudar Mitologia Grega, lendo a obra de Sófocles é que compreendi que Édipo fora afinal uma vítima do destino.

Quando Édipo nasceu, o rei Laio, seu pai consultou os oráculos, tal como era costume, e estes disseram-lhe que Édipo o mataria e casaria com sua mãe, Jocasta. Por tal motivo, Laio abandonou o filho num monte para que morresse, no entanto, este foi recolhido por um pastor e viveu. Mais tarde, foi adoptado pelo rei de Corinto e voltou a Delfos. Encontrou-se com Laio, e desconhecendo o parentesco, envolveu-se numa luta com ele e matou-o. Em seguida, resolve o enigma proposto pela esfinge que dominava a cidade, que consistia nisto: qual o animal que começa por caminhar com 4 pés, depois passa a 2 e finalmente a 3? Édipo respondeu que era o homem, na infância (gatinhando), na idade adulta (caminhando) e na velhice (com ajuda de um cajado). Como prémio o povo proclamou-o rei, casando-se com a rainha, sua mãe. A inexorabilidade do destino estava provada! Quando Édipo descobriu que matara o pai e casara com a mãe, furou os seus próprios olhos, como punição.

Tudo isto a propósito de quê? Bem, eu tenho-me deleitado com a psicológica fase edipiana, porque o Duarte é a personificação deste mito. Quantas vezes ele se aproxima de mim para dizer que me ama, me adora? Para me abraçar e beijar? IMENSAS VEZES. Incontáveis. Inumeráveis. Inesquecíveis! Nessas alturas, que o pai presencia, com um ténue, disfarçável ciúme, eu sorrio orgulhosamente e digo:- Bendito complexo de Édipo! Aí, o pai sorri placidamente, lembrando-se do complexo de Electra.

Ainda recentemente, num determinado ponto de uma conversa, entre mim e o meu marido, ele dizia a brincar:
- Então, na próxima vida queres casar comigo?
Ao que o Duarte prontamente respondeu, antecipando-se-me:
-Nem penses! Tu já casaste com a mãe, agora é a minha vez!
(Que delícia…é um complexo lindo!)
Complexo que está prestes a desintegrar-se…. O sinal, recebi-o com esta conversa:
Duarte: - Tomás, já tens namorada?
Tomás: - Quê?!
Mãe:- O Tomás é muito pequeno ainda, Duarte. Porquê, tu já tens?
Duarte:- Já.
Mãe (ainda muito confiante, pensando que era ela): ai sim? E como se chama?
Duarte: Sofia!
Mãe (com sorriso amarelo): da tua escola?
Duarte: sim, da minha sala. Ela é minha amiga. Muito minha amiga!

Sofia... a primeira namorada do meu filho. Bem, pelo menos posso orgulhar-me dos seus critérios, não me disse que ela era muito bonita, mas sim “muito minha amiga”!
C’EST LA VIE!

domingo, 18 de março de 2007

Síndrome de Cinderela


Eu gosto de moda, de tudo, mas do que gosto mesmo muito mais é de sapatos. Eu adoro sapatos! Não sei quando começou esta fixação, porém lembro-me de sandálias, botas e sapatos que tive ainda em criança. Não me recordo das roupas mas do calçado…ah, lembro-me bem do feitio, da cor, dos materiais. Quando comecei a ter idade para comprar sozinha, lembro-me do amor à primeira vista que muitos pares despertaram em mim. Essa era a minha forma de aquisição predilecta. Olhar para os sapatos na vitrine e saber que eram aqueles! Que tinha que os ter! Tornei-me especialista em sapatos; o calçado tinha para mim uma linguagem que eu entendia e falava. Era a primeira coisa que eu olhava numa pessoa e imediatamente fazia a sua leitura: prática, elegante, cuidadosa, desmazelada, vaidosa, pobre, rica, etc. Se ao conhecer um rapaz, ele calçava uns sapatos que eu não gostasse o resto já nem interessava!
Acumulei muitos pares de sapatos, porque nunca me cansava deles, porque tinham sempre bom aspecto (eu sempre os tratei bem!), até que a biqueira quadrada, ou o salto raso deixava de estar na moda. Então, entravam nas caixas de origem e ficavam no armário. Quando casei, o meu marido “obrigou-me” a dar os sapatos que não calçava. Depois, cheguei até a comprar sapatos que iam directamente da loja para o armário, só para não ouvir o meu marido a repetir incrédulo: - Outros?! Claro que ele acabava por os ver, mas já não importava.
Hoje continuo a gostar muito de sapatos, porém o amor à primeira vista de um novo par muito raramente acontece. Também já não são a primeira coisa que olho numa pessoa, nem me precipito a julgá-la pelo que calça. Agora concentro-me nos olhos. Não dizem que eles são o espelho da alma? No entanto, são bem mais difíceis de ler do que decifrar alguém pelos sapatos.

segunda-feira, 12 de março de 2007

Arrependimento


Há alguns dias atrás fui ao funeral de um velho amigo da família; velhinho de 93 anos que acompanhou a minha família por 3 gerações. Eu não o via há vários anos. Ele estava internado num Lar e todas as vezes que eu perguntava onde ficava o tal Lar, para o visitar, recebia a mesma resposta: -Para que queres lá ir ? Ele não reconhece ninguém, não vê, não ouve e não fala!
Eu desistia, porque no fundo era a resposta que me convinha.
Vou fazer uma confissão; eu fico angustiada só de pensar que tenho de visitar algum doente terminal ou ir a funerais. Tenho que fazer um esforço enorme para ultrapassar essa força dentro de mim que paralisa os meus passos. Porém, eu não fiz esse esforço para visitar este velho amigo. A resposta que recebia prendia os meus pés ao chão e aplacava a minha consciência. Até ao dia da sua morte. Então, pensei que deveria ter ido visitá-lo. Poderia até ser que ele não me reconhecesse, não me visse, nem me ouvisse, nem me respondesse, mas quem garante que ele não iria sentir a minha mão a acariciar a dele? O meu beijo na testa? De qualquer maneira, eu sentiria e compreendi então que há coisas que nós temos de fazer, porque nos fazem bem a nós. Fiz um derradeiro esforço e fui ao funeral. Assisti à missa e pedi a Deus que recebesse a alma daquele homem, no seu regaço. E que me desse forças para fazer o que deve ser feito.
Por coincidência, o Afonso postou um tema semelhante; recomendo a leitura. Para mim, esses "choques" são necessários, a fim de despertar a consciência, antes que seja tarde demais.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Amizade à primeira vista no Dia Internacional da Mulher


Eu acredito em amor à primeira vista; acredito que dois seres, num único encontro de olhares se identifiquem, sei lá como ou porquê, talvez recordações de outras vidas, o que interessa é que num olhar “acontece”! E pode ser para toda a vida. Portanto, faz toda a lógica para mim, que a amizade à primeira vista também aconteça. Isso já me aconteceu por várias vezes. A empatia era recíproca e imediata e com o tempo, descobríamos uma infinidade de gostos, opiniões e até experiências comuns. Lembrei-me deste tema porque hoje é dia de aniversário da Georgia; ela foi a primeira amiga que fiz na blogosfera. A nossa amizade surgiu de forma natural e à medida que ia conhecendo a Geórgia ia constatando as nossas inúmeras cumplicidades. A Geórgia é uma pessoa maravilhosa e estou muito feliz por ter a ter encontrado e por ela partilhar comigo, ainda que à distância, a sua vida. Então, hoje queria homenagear a aniversariante e todas as amizades virtuais, que vão para além da distância, da raça, da nacionalidade, da religião. Parabéns amiga!

Neste dia celebra-se ainda, o dia internacional da mulher, tudo porque neste dia, do ano de 1857, as operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias que, nas suas 16 horas, recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde, entretanto, se declarara um incêndio, e cerca de 130 mulheres morreram queimadas. Em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher". De então para cá o movimento a favor da emancipação da mulher tem tomado forma, tanto em Portugal como no resto do mundo.
O que se pretende com a celebração deste dia:
Pretende-se chamar a atenção para o papel e a dignidade da mulher e levar a uma tomada de consciência do valor da pessoa, perceber o seu papel na sociedade, contestar e rever preconceitos e limitações que vêm sendo impostos à mulher.
Conheço mulheres que são contra e existência e celebração deste dia, pois dizem que só há dia internacional para os fracos e que não existe, por exemplo,dia internacional do homem. Na minha opinião, este dia é oportuno, na medida em que a mulher continua a ser descriminada e se em alguns países esta discriminação é mais “light”, existem muitos outros países onde a mulher não tem ainda quaisquer direitos. Portanto, que seja, pelo menos por essas mulheres. Pensemos nelas.

segunda-feira, 5 de março de 2007

No lugar do Outro


Há dias, passava no corredor e ouvi a Letícia a dizer uma lenga-lenga provocatória:
-O Tomás é pequenino, o Tomás é pequenino….
O primo fez há pouco 3 anos mas compreendeu a ofensa e ia respondendo:
-Não! Não!
Então o Duarte aproximou-se da Letícia e com muita calma, colocou-lhe um braço no ombro e disse:
-Letícia, tu gostarias que alguém te dissesse: a Letícia é pequenina, a Letícia é pequenina?
Ela respondeu que não. Ele continuou:
-Então também não deves dizer isso ao Tomás, está bem?
A Letícia abanou a cabeça em sinal de concordância.
Eu afastei-me silenciosamente; assisti a toda a cena, fora do quarto, eles nem se aperceberam que eu estivera ali. A educação que damos aos nossos filhos está a dar frutos. “Não fazer aos outros aquilo que não gostaríamos que nos fizessem a nós” é uma frase muito repetida cá em casa. Ela contém a tolerância e o respeito para com o outro. Não é necessário ter estudos,nem conhecimentos filosóficos, nem tão pouco conhecimentos religiosos, nem ser muito inteligente, nem nascer num berço de ouro, nem possuir qualquer outro requisito para se colocar no lugar do outro. Eu creio que, bastava tomar esta máxima como prática corrente, no dia a dia para, ter uma vida correcta e honesta e fazer a vida dos que nos rodeiam muito mais fácil, o que em última instância facilitaria a nossa.